sábado, 8 de novembro de 2014

Na cama com preguiça

Psiu... Tá na hora de você começar a se arrumar pro casamento.
Sei que a essa hora você tá deitado, se espreguiçando, e dizendo: Preguiça da porra....
Eu podia apostar na mega sena que é exatamente isso o que você está fazendo agora.

E eu sei que você podia apostar que eu já estaria me arrumando. E estou.

Estou me arrumando, procurando em todos os cantos a coragem que me falta de te reencontrar depois de alguns anos.

Nosso último encontro foi bem traumático pra mim. Acho que casamentos são traumáticos pra nós dois.

Mas o casamento deles ultrapassa os limites....

Quantas vezes eu já não corri pro colo dela pra desabafar? Quantas vezes você já não foi jogar bola com ele?

Quantas vezes saímos nós quatro. Quantos ataques de riso?! Lembra quando paramos pra pedir informação na estrada e não conseguimos parar de rir? Ninguém se controlou e não conseguimos falar nada, simplesmente fechamos o vidro e fomos embora. Acho que fomos rindo daquele jeito até Minas. Foi o Victinho que começou, com aquela cara de quem prende o riso, desarmando qualquer seriedade.
E a viagem de Itaipava, que nós quatro fomos? Pousada linda, viagem perfeita e muita zueira por estarmos em quartos vizinhos. Ninguém podia fazer muito barulho, lembra?
 Tiveram as praias, as viagens pra Teresópolis, pros campeonatos de futebol, teve aquela comemoração de dez anos no sítio...
Jantares com eles, nós quatro, sempre juntos. Sempre grudados.

E agora somos quantos? Seis? Eles dois, você com ela e eu com ele.

Onde está o sentido de tudo isso? Pra que construir tanta coisa e hoje nos olharmos tão vazios?

Não estou conseguindo continuar a me arrumar. Já era pra estar quase pronta... Você sabe como eu sou, não é? Não gosto de me atrasar. Mas eu queria, queria me atrasar tanto a ponto de não ir.

Você sabe, também, como eu encaro as coisas, né? Então, dá licença, tenho que fazer o meu cabelo.

Até daqui a poucco, Dé.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Pra você, menino do metrô.

Felipe,

Se você decorou mesmo o endereço desse blog (que ninguém sabe), naquele dia que nos encontramos e as Originais e suas mãos invadiram nossa noite, e pior, se você perde o seu tempo pra ler as baboseiras que eu escrevo, então:

1. Tô fudida.

2. Não acredita muito nas coisas não.

3. Deixa eu te explicar:

Primeiro, eu já estava com o texto pronto na minha cabeça pra te dizer: Esse blog não é só meu, minhas amigas também publicam, etc. Depois, eu resolvi que não ia mentir não.

Sou eu mesma quem escreve todas essas bobagens, pra todas essas pessoas sem importância.

São pessoas que cruzam a minha vida e deixam uma mensagem qualquer. Inclusive,  que você pode conhecer pessoas interessantes em um sábado de manhã no metrô.

Deixa eu te explicar direitinho... Eu vivo, literalmente, um dia de cada vez.
Foi por isso que eu casei no primeiro dia que fiquei com meu ex-marido. Ele dormiu na minha casa naquela noite e nunca mais dormimos separados, até separar de vez.  Foi por isso, também, que eu comprei um apartamento com ele com quatro meses de relacionamento, e que compramos o meu Gol vermelho, carro dos meus sonhos na época.
Foi por isso que um dia, quando eu tava na faculdade, depois de uma chopada, eu e minha melhor amiga resolvemos fazer um mochilão... naquele dia! Nos mandamos pra rodoviária e fomos parar em Vassouras, pedindo carona debaixo de chuva.
Foi por isso que resolvi morar fora numa sexta-feira e segunda eu estava dentro de um avião, desembarcando nas montanhas do Colorado.
Foi por isso que eu fiz cinco faculdades, achei o homem da minha vida várias vezes, e às vezes, por uma noite só.
Foi por isso que aceitei namorar na primeira noite e terminei algumas horas depois.
Foi por isso que ganhei uma carta de amor por correio, um capítulo de um livro e uma aliança aos 18 anos.

É porque eu sou assim, menino do metrô, vivo muito intensamente.

Eu ia lhe pedir desculpas por te assustar.
Mas sabe o que eu gosto, quer dizer, o que eu gostei? Você parece ser muito parecido comigo.
Então eu não tenho que pedir desculpas por ter te assustado, mas eu queria que você não desse importância para todos esses textos em que eu falo dos meus sentimentos, porque eles estão só nos papéis.

Foi por isso que nossa noite não mereceu um texto. Por que eu gostei de você de verdade.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Não vou chorar

Acabei de lembrar do dia que eu peguei a minha carteira de motorista.

Nós já estávamos terminados. Ninguém nunca tinha dirigido seu Golf novo.
Você foi da Barra até a minha casa no Leblon só pra eu dirigir.

Eu passei a marcha sem o pé na embreagem e achei que você me mataria (o que faria em outros tempos).

Você riu.

E depois você me deixou em casa e colocamos no som a música que o Chiclete fez pra gente.
E eu chorei descontroladamente, dentro do carro, enquanto nos abraçávamos.

Não lembro o que você me dizia, porque devia ser lindo. E na época, eu me anulei em relação a tudo o que era lindo e vinha de você.

Mais uma lembrança que juntei com as fotografias e coloquei numa caixa vazia... O que restou do amor.




O casamento e as recordações escrotas II

Mais um casamento dos nossos amigos, né?
Isso devia ser proibido. Você e seu ex em casamentos de amigos em comum.
Tudo pra pensar que poderia ser nós dois ali. 
Tudo pra repensar porque nos separamos.
Tudo pro destino me dar um tapa na cara.

Tudo bem escroto, que nem no casamento anterior. 
Mas dessa vez, sem meus pais pra você ficar bajulando. Sem a minha mãe pra te contar a minha vida inteira e você depois vir fazer joguinho dizendo que sabia o que eu andava fazendo.
Sem meu irmão pra você brincar de lutinha enquanto eu converso com ele.
Sem minha família pra me lembrar, durante todo o casamento, o quanto a gente se gostava.

Foda-se. Eu disse mil vezes. Disse pra todo mundo que me falava o quanto era engraçado nos ver juntos no casamento da Lu. 

Eu morria de rir, brincava com todos e dizia o quanto sentia falta da época que éramos moleques e nossos grandes problemas eram quando tínhamos trabalho da faculdade pra fazer no final de semana
.
Morria de rir.
Até morrer de chorar, depois, sentada na escadaria daquele casarão com uma taça de champagne numa mão, um cigarro na outra e os pés descalços.

E teve toda aquela palhaçada de você ir atrás de mim, perguntar porque eu chorava e eu gritar mandando você ir embora dali.

-Tem certeza que quer que eu vá?

-Sai daqui!

Depois de um beijo roubado em que eu não tive reação alguma, você me deixou lá, no escuro.

Chorando... Até querer mandar tudo pro espaço, até querer que você não tivesse namorada há seis anos e que eu não fosse casada há quatro. Até querer tanto e ignorar, o que eu melhor sei fazer.

E então, curtir a festa.

Vamos combinar uma coisa? Nada de reparar na minha roupa, nada de reparar que eu chorei na cerimônia, nada de papo.

Vamos nos cumprimentar como duas pessoas quaisquer, como dois amigos, o que somos há mais de quinze anos. Se tiver que conversar, vamos ser rápidos, só por educação.
Mesma mesa, nem pensar. E então, eu vou embora cedo e está tudo certo.

Não sei quando vou conseguir, mas espero te olhar com aquela falta de paciência que eu tinha assim que nos separamos.
Sem arrependimento, e tendo a certeza de que, quando eu te deixei, chorando e dizendo que nunca mais ia amar ninguém, estava com a consciência mais tranquila do mundo.

Consciência filha da puta.



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Premissas profissionais.

Não meu filho, não venha jogar seu charme pra cima de mim não, porque você vai se fuder.
Não me venha com essa sua blusa rosa clarinho da Polo, que me deixa mole de tanto charme.
Não me venha com esse seu jeito sério e aparentemente bravo com tudo. Me falaram que fora da empresa você é outra pessoa.
Não me venha com esse seu olhar fulminante pra cima de mim enquanto passa pelo vidro da minha sala.
Não me venha com esse seu ar sério sem me dizer "de nada" quando eu te agradeço. E pior de tudo, nunca mais, nunca mais - tá entendendo? - você cruze comigo e sorria respondendo um "tudo bom" quando eu te pergunto, séria - única e exclusivamente por educação - "tudo bem?", como forma de cumprimento quando eu cruzo com você pela primeira vez no dia.
Isso aconteceu apenas uma vez, mas se acontecer de novo, você vai ver.
Olhe bem, favor não manter nenhum tipo de contato além do estrito necessário.
E quando eu for treinar com você... Ah garoto... Não sorria, não dê um pio pra falar nada além de me explicar sobre a sua área.
E favor ser breve, não quero passar o dia todo do seu lado.
Grata.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Improbabilidades de um sábado de manhã

Sete horas da manhã meu despertador toca com a mensagem:"Ibmec te chama às sete da manhã". Como em todos os sábados, eu não me acostumo e penso porque eu resolvi fazer pós graduação em pleno sábado. E logo em seguida eu lembro que, pela primeira vez, eu tinha uma prova em que se me perguntassem meu nome, eu não saberia escrever. Depois de todos esses pensamentos, eu fiz o checklist diário no celular e fui me arrumar.
Andando pela rua que nem um zumbi, chego no metrô às sete e meia da manhã e espero. O lugar vazio que eu menos precisava andar para chegar era ao lado de um menino de skate. O meu primeiro pensamento foi cheio de raiva daquele menino saudável indo andar de skate àquela hora da manhã, ao invés de dormir até as duas da tarde, que era o que eu gostaria de ter feito. O meu segundo pensamento foi que ele era uma graça. O terceiro foi da porra da prova que eu não sabia nem o nome da matéria. 
Já de saco cheio de todo o meu dia já inteiro programado prova-chábardecasamento-ressaca, fui fazer o segundo checklist de apagar as fotos dos grupos do whatsapp que o meu celular faz o favor de gravar. Eu cheguei a ter um pouco de pé atrás daquele menino estar vendo eu apagando as fotos absurdas que meus amigos enviam nos grupos e pensar que era eu quem as salvava por vontade própria. Ele me acharia uma promíscua, lésbica, puta, anti-PT, rica e racista com os nordestinos (o que eu sou). Depois pensei: Foda-se, nunca mais vou ver na vida. Até que eu, acostumada a encostar meu skate por aí - deixando cair e sempre amparando com o pé e ganhando um roxo novo - vi a cena que já estou acostumada: o skate do menino que acorda às sete da manhã num sábado lentamente indo de encontro ao chão. E eu, no meu cotidiano reflexo, coloquei o pé para amparar. Em vão. Só deu tempo do menino distraído ouvir o barulho, pegar do chão e me agradecer. A situação, que durou meio segundo, me despertou e eu lembrei da prova. Peguei um único papel que tinha algumas anotações e comecei a ler.

 -Prova?

 -Oi? Ah, é... Um saco.

 E então o diálogo continuou com a pergunta que estava me incomodando:

 -Por que você não está dormindo agora?

 -Marquei com uns amigos de ir de skate até Copacabana...

 Um dia eu queria ser assim, imagina, não acordar querendo morrer de tanta ressaca e ser saudável em pleno sábado de manhã. Conversa vai, conversa vem e saltamos no Centro, onde ele iria iniciar seu trajeto de skate. Não fomos cada um pra um lado, ele me levou até a porta do Ibmec, num ato de fofura.

 -Não sei seu nome!

 -Felipe. A gente se fala.

 -Tá bem.

 Prova.

 Chá Bar de casamento. Meu celular apita: "Como foi na prova?" Fofo. A conversa começou cheia de brincadeiras e assuntos interesantes. E obviamente, eu fiquei encantada.

 Final do Chá Bar: Meia garrafa de Gin, a única bebida que não tem carboidrato. Sem condições alguma de manter qualquer tipo de diálogo, o meu subconsciente continuou a conversar com o menino do metrô. E última coisa que meu subconsciente, sensatamente, escreveu foi:

"Felipe, acabei de chegar em casa. Vou dormir, tô exausta. Beijos."

 Pefeito. Consegui não estragar tudo! Acordei com uma mensagem dele: "Me ama?"

 Eu fiquei sóbria de novo na hora. Sóbria e desesperada, pensando: Eu não seria capaz. Eis que eu criei toda a coragem do mundo, que sabe Deus de onde eu tirei, porque eu não tinha nenhuma e abri o celular. Exatos vinte minutos depois de uma lucidez extrema em que eu me despedi, havia lá um "eu te amo". Enfim... Depois de tentar inventar várias desculpas até ele me dizer um: "Vou fingir que acredito pra encerrar o assunto.", eu abaixei a cabeça e ganhei o apelido de "amor", em um áudio fofo na manhã seguinte.

 O tipo de coisa que, só quem é phd em cagadas, faz.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Só rindo de um coração tão vulnerável assim...

No caso, o meu coração.

Coitado... Olha pra um lado e vê aquele carinha com um casaco vinho fumando um cigarro, fica desconsertado. É ele, o homem da minha vida.
Lá longe tem um outro que faz brincadeiras e leva um casaco pra você não sentir frio. Pronto.
Um pouco mais a frente, tem o amigo, que não consegue ficar sem pegar em você e te rouba um beijo no escuro do taxi. É ele, sempre soube.
Pra atrás, ficou aquele da eterna mochila amarela, que tanto te cortejou, e resolveu largar de mão. Que decepção, hein coração...
Aí reaparece um pseudo-juiz, um antigo caso e dois novinhos em folha.
Dois. Que não mereceram nem um texto separados, de tão juntos que são.
Um médico, sério e engraçado ao mesmo tempo, de um lado, e um advogado nada sério, companhia necessária nas minhas noites de bebedeira.

Pobre coração que não sabe fazer escolhas, que cata o primeiro que aparece e jura que dessa vez vai, que agora é de verdade. E não entende nada, não consegue olhar nem um pouquinho pra frente, não enxerga de longe. Nem desconfia que é pura carência, vontade e falta de vergonha.

Acorda, coração, não é assim que a banda toca. 

Quando ele chegar, não vai ser com você agoniado. Vai ser com calma. De repente já chegou e você nem dá tempo de ele respirar. Nem percebe, porque está muito preocupado em viver tudo com tanta intensidade, que esquece que o amor não tem pressa





Você(s)

Foi naquele dia que te conheci, pouco falante, ria quieto enquanto todos nós conversávamos. Foi naquela noite, que você não parava de falar.

Gostei quando você chegou, de blusa azul de manga comprida, estava lindo de vermelho.

Eu gostei de nós dois juntos, é bom quando você me beija tão tímido, com aqueles beijos sem vergonha nenhuma.

E você me chama pra sair, ir em um bar português em Copa, eu aceito e te encontro na Urca pra mais um chopp de fim de tarde.

Me faz bem você ser tão sério, conversando sobre como já fez tantos partos e como gosta da medicina. Um advogado, quem diria, com todo esse ar de fazer piada de tudo.

Alto, me abraça muito grande. O seu olhar é da altura do meu.

Gostei de dormir na sua casa em Ipanema, bem no centro de Copacabana.

Seu apartamento de dois quartos é uma graça, mas é enorme pra você, que mora sozinho no seu quarto e sala.

Pele morena, quando pega sol fica vermelho.

Me pede pra ligar quando chegar em casa e eu, prontamente, mando mensagem como pediu.

Fala pelos cotovelos, conversa e implica comigo. Com seus olhos grandes não fala nada, sorri com os olhinhos tão pequenos, apertados.

Diz que é enrolado, com uma amizade colorida, não tem ninguém, nenhum caso.

Eu acho que eu gosto de você, que já vi há muito tempo atrás, mais de ano, mês passado.


domingo, 28 de setembro de 2014

O Gabriel

Trabalhamos juntos há anos atrás e ele era o tipo de pessoa que eu nunca lembraria a troco do nada. Mas que eu esbarraria vez ou outra nos sambas da vida, ou numa saída qualquer com amigos em comum.
Era do tipo que falaríamos umas bobagens, iríamos rir um pouco e passaríamos mais cinco anos sem nos ver e eu sem lembrar dele.
Até aquele dia da Lapa, que nos esbarramos e ele me disse que tava meio perdido porque tinha terminado há pouco tempo.
Mais um que  veio na barca. Daquele dia em diante, trocamos mensagens quase que diariamente, era Copa, tava tudo uma zona aqui e sempre combinávamos e furávamos um encontro casual, em que os dois sabiam o motivo. Até o dia que não furei e terminamos a noite pedindo uma rodada de tequila.
Foi então que conheci o Gabriel, aquele com o qual eu trabalhei anos atrás.
Ele era diferente, era divertido demais, engraçado, inteligente, carinhoso e fazia questão de me deixar em casa.
Algumas mensagens aqui, outhas lá e uns encontros às vezes casuais, outras nem tão casuais assim, como essa semana, em que disse que estaria na Tijuca e ele foi me encontrar com um casaco de capuz porque eu  estava com frio.
É impossível não lembrar dele, daquele, em que oito anos atrás, me deu seu casaco de capuz de surfista pra eu não passar frio. Ele, que disse que não deixaria eu trazer de volta pro Brasil aquele casaco porque era seu preferido, ele me daria outo. Outro eu não queria - eu disse.
Aquele casaco, que foi a primeira coisa que eu vi dentro da minha mala depois de dez horas dentro de um avião. O mesmo casaco, que eu usava e ia até o meu joelho, e que eu dormia e me sentia ummpouco na Cali ainda.
Igual ao casaco que acordou na minha cama no dia seguinte em que encontrei com o Gabriel.

- Aconteceu uma coisa estranha hoje... Acordei com um casaco na minha cama. É seu? - Brinquei.
- Não sei, o cheiro é bom?
- É...
- Então deve ser, dizem que sou cheiroso.
- Se o casaco for seu mesmo, não posso discordar com toda essa gente que diz que você é cheiroso...
- Se a gente não fosse amigo, acharia que isso é ciúme.
- Ainda bem que somos amigos. Ufa.
- Tô com inveja desse casaco.
- Se a gente não fosse amogo, acharia que você queria ter dormido comigo.
- Ainda bem que somos amigos.
- Ufa.
- Se a gente não fosse amigo, eu acharia que você também queria.
- Eu acho que você está achando demais...
- Pois é, esse negócio de vontade é perigoso, dizem...
- Espero não estar correndo perigo.
- Me entrega o casaco domingo à noite? Aí eu levo pra casa segunda de manhã.
- Essa matemática hein....
- Não é boa?
- Não posso dizer que não é...

Domingo é hoje. Agora é de manhã e , além de eu sonhar com ele, acordei com um casaco na minha cama.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A Barca

A Barca passou. Passou e trouxe uma pá de gente que não dá nem pra contar.
A Barca passou deixando pra trás namoros e casamentos. Namoros e casamentos longos, que duraram  dos vinte e pouco aos quase trinta.
Não tinha lugar pra recordações, lágrimas, angústias, nada disso. Era muito pesado.
Embarcou a esperança de dias novos, a excitação do que havia lá na frente e a maturidade.
A Barca foi uma boa de uma filha da puta comigo porque fez questão de parar no meu passado e deixar bem claro: Subam todos! E quem não couber, pega a Barca das 17h, que tá vindo aí atrás.
Veio o Daniel, que foi o último a embarcar e o primeiro a descer, trouxe uma paixão meio louca que foi embora na mesma intensidade que veio. Eu tava meio confusa, tinha chegado na barca das 15h.
Veio o Pedro, que conseguiu subir na Barca das 17h, e preguiçoso, foi o último a descer. Trouxe tudo o que eu precisava. Tudinho. Admiração, cavalheirismo, bom emprego, charme e uma mala de histórias nossas, que tinha até a minha calça jeans de boca larga e a minha blusa branca de capuz.
Veio o Tiago, com a loucura de St. Tropez. Ele desembarcou errado, todo desligado como sempre, veio baixar aqui no Rio de Janeiro. Mas só por dois dias. Consegui colocá-lo na barca do dia seguinte, que ia parar em Salvador.
Veio o Gabriel, que trouxe toda a graça e as conversas nas entrelinhas, que eu entendo perfeitamente. Quando falamos como o flamengo tá indo mal, ele quer me dizer que ainda está com vontade de me ver.
A Barca trouxe pessoas novas também! Trouxe o homem da minha vida, que separou há duas semanas, a minha melhor amiga, que foi a capitã da barca das 18h e chegou fazendo um alvoroço só,  o pseudo-juíz que terminou início do ano. Trouxe o da pós, o do carnaval, o amigo dos amigos e até um ator.
Bendita seja essa Barca, que tá me fazendo ter dias de sol, mesmo quando tudo parece estar nublado!
Pra mim, nunca tá.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Toda essa loucura....

Até que ponto eu chego com essa loucura?
Eu queria entender o porquê de eu sentir esse turbilhão de coisas por uma pessoa que eu não conheço, que eu tive a oportunidade de passar só algumas horas de uma noite qualquer.
Qualquer pessoa que tivesse o mínimo de bom senso, teria apenas conhecido um carinha e trocado telefone sabendo que ele não ligaria de novo.
Mas por que eu tive que olhar para aqueles cachos castanhos e aquela pele branquinha e sentir vontade de chorar?
Por que eu tenho que acreditar em cada palavra dele, e pior, encher ele de palavras que naquele momento significavam o mundo pra mim?
Eu não acreditei muito que ele ligaria, na verdade, eu achei que ele me achou uma completa maluca. Quem, em sã consciência falaria tudo o que eu falei? E quem seria o maluco de concordar com tudo? Ele.
Maluco, tão maluco, que disse que também estava sentindo aquilo. Tão maluco que, sentindo aquilo, não me ligou.
E tudo tão louco, mas tão louco que eu achei que nunca mais o veria.
Tão louco que, seis dias depois, eu vi aqueles olhos me olhando. Os mesmos olhos que me davam vontade de chorar.
E nos reencontramos, nos beijamos, nos abraçamos e eu jurei que não ia mais pagar de maluca pra ele. Mas ele me desmoronou com tudo o que me disse. E eu esperei de novo ele me ligar no dia seguinte.
Quem sentiria tudo aquilo que ele disse que sentiu e conseguiria dizer que ia ligar e desaparecer?
Ele. Aqueles cachos castanhos e aquela pele branquinha, que me dá vontade de chorar.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O pote de ouro no final do arco-íris

Quais eram as chances de eu estar com um taco de sinuca na mão, pronta pra jogar, olhar pra frente e ver seus cachos castanhos e sua pele branquinha?
Se eu tinha qualquer dúvida a respeito do que falam sobre o destino, essa dúvida foi embora e não volta nunca mais.
Eu nunca tinha ido naquele lugar. Era domingo, e a ideia surgiu no meio de muita falta de opção. Chovia.
Você me olhou surpreso e eu consegui não acertar nenhuma bola e deixar o taco cair no chão fazendo barulho. Fiquei paralisada.
Você sumiu, só podia estar lá fora. Estava. Encostado no muro, fumando seu cigarro.
Me olhou e não parou de olhar. Eu fui até você, encostei do seu lado e não falei nada.
Você perguntou se eu estava bem, olhando pra frente. Eu respondi que sim.
Você me puxou pela mão e me levou embora, de mãos dadas e sorrisos bobos.
Você existe.
Você me contou tudo. Se separou há duas semanas, mora na rua atrás da minha. Agora mora no sofá da sala dos seus pais. Ainda faz parte do projeto social que estava na sua camisa, e vai pra Macaé durante a semana.

-Por que você não me ligou?
-Porque a minha vida está uma bagunça, eu precisava entender o que tinha acontecido.

Você continuou falando o quanto eu era linda, e me falou muito mais.
Me disse que não sabia que era possível achar alguém assim, sentir algo assim, eu era o seu encontro, o seu rumo. Eu era o pote de ouro no final do arco-íris. Tipo inalcansável, você me disse.
Eu lembro de fechar os olhos e querer prestar bem atenção no que você estava me falando, porque era lindo. Você é lindo.
Me perguntou o que eu vi em você. Eu disse que você era o homem da minha vida. Que eu tinha achado. Não existia opção pra gente. Nascemos um pro outro.
Entre declarações e muitas cervejas, ficamos juntos até as cinco da manhã. Nos olhando, nos beijando e nos perguntando o que era aquilo que estava acontecendo entre duas pessoas que nunca tinham se visto.

- Você me dá vontade de chorar.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Eu te achei e você me dá vontade de chorar

Eu te achei e o seu nome é Augusto.
Eu te achei e você tem cachos no cabelo e pele branquinha.
Eu te achei e você usa fones de ouvido jogados no ombro.
Eu te achei e você usa uma blusa branca de algum projeto social.
Eu te achei e você me olhou lá de fora e não parou mais de me olhar.
Eu te achei e você me deu vontade de chorar.

Augusto, eu queria te dizer que você é o homem da minha vida.
Eu percebi isso quando você me embalou, quando você me embolou no seu abraço.

- Você me dá vontade de chorar, porque você é o homem da minha vida.
- Você é linda.

E você me dava mesmo vontade de chorar, vontade de chorar quando eu me virava de costas e você me abraçava grande, com seus dois braços me enforcando e me deixando presa em você. Vontade de chorar porque você me beijava com as mãos no meu rosto. Vontade de chorar porque você me abraçou tão forte que não deixou nenhum espaço entre a gente.

- Sou casado.
- Some daqui.

Você não sumiu, você me abraçou mais.

- Sai da minha vida.

Você não saiu. Não posso contar quantas vezes te mandei ir embora, quantas vezes me virei de costas e você me abraçou forte.
Como pode o homem da minha vida ser casado? Logo o homem da minha vida?
Você pegou meu telefone e eu não te olhei quando fui embora.
Não te olhei porque não queria ter aquela última imagem.
Porque eu não quero que seja a última, quero que você me busque na minha vida e me leve pra sua.

Quando nos beijamos, eu te disse da minha vontade de chorar porque eu tinha sentido que era você quem eu procurei a vida toda. E quando fui embora, minha vontade de chorar era porque eu ia passar mais de um minuto sem você, e isso me dava muita, muita vontade de chorar.

Agora eu estou com vontade de chorar porque estou lembrando da sua pele branquinha e dos seus cachos castanhos.  Estou lembrando também do que eu senti quando você me abraçou, e de quando eu te abracei por trás e beijei toda as suas costas, de um ombro a outro. Lembro de deitar a cabeça e pensar aliviada na sorte que eu tive de ter te encontrado, esquecendo do que você havia me dito, lembrando logo em seguida e implorando:

- Não me liga? Por favor, não me liga. Desaparece da minha vida? Não me procura.

Era o mesmo que pedir desesperadamente para você entrar na minha vida , pra nunca mais me deixar.

Eu te achei.
E você me dá vontade de chorar.










segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Meu amigo, meu amor

Oi, tudo bem?
Eu vim aqui falar com você, porque eu queria que, sei lá... Vai ver você sabe explicar o que aconteceu ontem. É que eu não entendi muito bem, fiquei meio confusa e até agora to sentada naquele taxi olhando pra frente sem conseguir esboçar qualquer reação.
Sei que não foi a primeira, e nem a segunda vez que você faz isso, mas foi a primeira vez que eu fechei os olhos e senti.
Sabe, eu achava mesmo que você era só mais um desses meninos bom partido, que ficaria meu amigo e e que eu iria apresentar cheia de orgulho para as minhas amigas.
Eu apresentei, cumpri com o roteiro que eu havia organizado.
Até aquele dia que, de tanto você insistir para que eu ficasse, porque eu havia bebido muito e era melhor que dormisse na sua casa, eu acabei acordando do seu lado. Eu deveria ter percebido desde o início, que todos haviam bebido muito e que eu era a única que você queria que dormisse lá. Nunca tocamos no assunto. Nunca contamos pra ninguém.
Continuamos fingindo que absolutamente nada daquilo havia acontecido. Eu apaguei isso da minha vida, até porque eu não lembro de absolutamente nada daquela noite. Ou melhor. Eu lembro da gente ter se beijado no escuro, sem motivo nenhum.
Você é o meu amor, como eu sempre falo. Você é o meu amigo mais lindo, e eu não me importei mesmo de te apresentar minhas amigas, não sei porque, eu não sentia nada mesmo, ou não sabia que sentia, sei lá. Não consigo explicar.
Mesmo depois daquela festa que todos disseram que a gente estava tão grudado, que parecia que estávamos juntos. Foi nessa festa que tiraram uma foto de todos nós, e enquanto todos olhavam pra câmera, você olhava pra mim. Nessa festa, que pela primeira vez você pegou meu rosto e me deu um beijinho. E pela primeira vez, eu fingi que achei normal.
-Ele tem esse jeito com as outras amigas de vocês? - Ela, que me conhece mil vezes melhor do que eu, me perguntou, depois de um dia em que nos viu muito juntos.
- Não.... E eu nunca tinha me dado conta.
Na segunda vez, eu estava muito triste e estavam todos na sua casa. Você pegou meu rosto e me deu um beijinho. E pela primeira vez, eu não achei nada demais, eu achei um beijo de amigo, de amor. Achei que você queria me consolar de um jeito mais próximo, um beijinho pra diminuir a dor.
E no meio de tudo isso, algumas mensagens lindas e inesperadas de madrugada, um "eu te amo" jogado num canto, um "estou pensando em você" em outro e um "não entendi porque não viajou comigo"...
Eu não achei nada demais você ter insistido pra eu dormir no seu quarto quando todos já estavam com seus lugares para dormir na sua sala. Você falou que eu ia dormir com você, mas eu já tinha o lugar pronto junto com nossos amigos. Você falou algumas vezes e na hora de ir dormir, falou de novo. Eu fui depois de você dormir e saí antes de você acordar. Acho que não queria acordar do seu lado, acho que tenho um bloqueio, acho mesmo que tenho medo de acreditar nessas mensagens. Ainda deu tempo de fingir que estava dormindo na sala e te ver saindo todo arrumado pra sua reunião de manhã. Você me cobrou, disse que não entendeu porque eu não dormi com você. Eu disse que dormi e você não viu.
Ontem foi a terceira vez. Mas foi depois de algumas vezes que saímos e você não conseguia desgrudar de mim, e eu não conseguia desgrudar de você. Foi depois do dia da Urca que você sentou do meu lado na muretinha e ficou com a mão na minha perna e eu encostei a cabeça no seu ombro. Acho que foi nesse dia que eu comecei a sorrir quando lembrava do carinho que você tinha comigo, e em como era gostoso estar nos lugares com você, porque você me dava a atenção que eu amo ter.
Foi ontem, que estávamos juntos e estávamos bem grudados. Fomos embora juntos, e, no taxi, você estava de novo com a mão na minha perna, enquanto eu encostava no seu ombro.
E você me pede pra deitar no seu colo, pra ser ainda mais carinhoso comigo. Eu também não conseguia parar de ser carinhosa com você. Você, meu amigo, meu amor.
Foi por isso que você fez aquilo? Foi por isso que você me afastou do seu abraço pra colocar a mão no meu queixo e me dar um beijinho? Pela primeira vez eu estou até agora parada, porque não tive nenhuma reação a não ser a do coração bater mais forte e um sorriso idiota no rosto.
Meu amigo, meu amor, você nunca tinha sido carinhoso dessa forma comigo, nunca tinha me pedido pra deitar no seu colo, e eu também nunca havia retribuído dessa forma.
E eu continuo daquela forma, quieta, sentindo suas mãos em mim, e sem entender, pela primeira vez, porque mexeu tanto comigo.



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Quase um ano e meio

Quando eu paro pra pensar que já passou um ano e meio, eu fico meio bamba, meio confusa, meio "isso está mesmo acontecendo?". Foi possível? Eu consegui?
Só de falar meus olhos enchem de lágrimas, mas elas não derramam, elas secam como se pusessem um secador gigante na minha cara assim que a lágrima pensa em sair.
É incrível como eu consigo chorar quando vejo uma cena de novela, mas sequei quando se trata de tudo o que eu passei na vida real.
Filha da puta. Só o que eu tenho pra dizer dele. O desgraçado parece que amaldiçoou minha vida amorosa pra sempre. Eu sei que eu fui uma filha da puta aos olhos dos meus amigos, de quem me conhece mais ou menos ou de quem eu resolvi falar as cagadas que eu fazia. Mas eu? Eu fui uma santa. Ninguém tava lá quando eu chorava por ter visto o resultado de um exame que praticamente dizia que eu não podia engravidar, enquanto ele zapeava os canais da televisão e falava no telefone combinando o futebol de domingo. Filho da puta. Não consigo pensar em mais nada.
Eu não consigo lembrar dos momentos que eu me senti feliz de verdade, sem fingir. Fingimento era a minha principal qualidade. As pessoas me invejavam, diziam que eu sim sabia viver a vida. Tudo baseado nas coisas que eu falava. Tudo mentira, eu não podia falar nada do que eu sentia de verdade.
As vezes, bêbada, eu falava e só causava discórdia. Ninguém gostava de ouvir que eu não me sentia feliz ali, que eles não eram meus amigos, que eu tinha os meus amigos, assim como eles eram amigos entre si, mas meus amigos moravam no Rio. "Isso aqui, isso tudo aqui!!! Eu tenho isso, assim como vocês estão tendo, igual, mas com os MEUS amigos, vocês não são meus amigos. E eu não queria estar aqui!!!". No dia seguinte, estava eu lá, pedindo desculpas, todo mundo puto comigo e eu chateada por ter falado a verdade. Verdade não fazia parte da minha vida.  Quando eu falava a verdade, era uma mentira.
Viver de mentira é uma merda. Quando eu falava a verdade, era a maluca.
Quando eu falava que nunca quis caralho de apartamento, carro e etc, as pessoas riam... "Essa menina é muito maluquinha..."
Isso porque eles não sabem que no Rio, ter carro é um atraso de vida, e apartamento comprado é só lá na putaqueopariu, um quarto e sala isolado no mundo. É a única possibilidade de se ter apartamento, e tem que ter carro, ou seja: atraso de vida ao quadrado.
Bom mesmo é ir à praia a pé, tomar um açaí na esquina e encontrar os amigos pra uma cerveja de garrafa no final da tarde.
Eles não entendiam nada. Eu era uma pura mentira, um protótipo de menina, uma coitada.
Havia quem me entendia até: " o que você tá fazendo lá?" Lá. Sempre alguém daqui perguntava e eu, mentirosa, dizia que era feliz, tinha comprado apartamento.
Apenas uma pobre coitada, que tinha se acostumado com a ideia de que não necessariamente se é feliz pro resto da vida, paciência ué. Na próxima vida, de repente, sei lá... Mas quem disse que se pode ser feliz? Comercial de Margarina? Foda-se, tô com preguiça, me deixa aqui quieta.
Ser feliz é luxo, eu nunca quis luxo.
Quase um ano e meio. Eu achei que melhorava aos poucos, que com o tempo, ia passando.
Mas eu não sabia que a faca tinha atravessado o corpo, tão fundo, tão fundo que não fecha!
E cada dia que passa, e que não fecha, minha raiva aumenta e aumenta e aumenta e eu tenho uma vontade de sei lá, não sei explicar. Mas eu sei dizer o que é arrependimento. Arrependimento de ter passado tanto tempo deixando ele cravar a faca cada vez mais fundo, e eu de peito aberto, deixando ele fazer uma ferida que não ia sarar nunca.
Sinceramente, é triste falar isso, mas eu não acredito que um dia eu vou conseguir amar alguém, calma e serena, com a certeza que eu achei a pessoa certa.
Esse filho da puta fez crescer um sentimento de "nunca mais vou amar ninguém" tão grande dentro de mim, que eu não consigo pensar na possibilidade de andar de mãos dadas sinceras, de querer dividir uma boa notícia, de olhar pra alguém com os olhos sorrindo.
Terapia não adiantou... Foram seis meses indo pra terapia com a frase feita pra iniciar a conversa, e nada. Um dia só, eu resolvi ser sincera e disse: "eu não consigo falar o que eu venho tentando falar há seis meses, eu preciso me curar dele, mas não consigo pensar na possibilidade de termos uma conversa sobre isso." Ela disse que aquele dia foi o divisor de águas nas nossas sessões, que pela primeira vez, eu tinha sido sincera e que a partir daquele dia iríamos trabalhar nisso.
Nunca mais voltei.
Eu espero, do fundo da minha alma, conseguir falar sobre isso. Mas pra mim, parece o que há de mais  impossível, e sincero, que possa acontecer na minha vida.