domingo, 28 de setembro de 2014

O Gabriel

Trabalhamos juntos há anos atrás e ele era o tipo de pessoa que eu nunca lembraria a troco do nada. Mas que eu esbarraria vez ou outra nos sambas da vida, ou numa saída qualquer com amigos em comum.
Era do tipo que falaríamos umas bobagens, iríamos rir um pouco e passaríamos mais cinco anos sem nos ver e eu sem lembrar dele.
Até aquele dia da Lapa, que nos esbarramos e ele me disse que tava meio perdido porque tinha terminado há pouco tempo.
Mais um que  veio na barca. Daquele dia em diante, trocamos mensagens quase que diariamente, era Copa, tava tudo uma zona aqui e sempre combinávamos e furávamos um encontro casual, em que os dois sabiam o motivo. Até o dia que não furei e terminamos a noite pedindo uma rodada de tequila.
Foi então que conheci o Gabriel, aquele com o qual eu trabalhei anos atrás.
Ele era diferente, era divertido demais, engraçado, inteligente, carinhoso e fazia questão de me deixar em casa.
Algumas mensagens aqui, outhas lá e uns encontros às vezes casuais, outras nem tão casuais assim, como essa semana, em que disse que estaria na Tijuca e ele foi me encontrar com um casaco de capuz porque eu  estava com frio.
É impossível não lembrar dele, daquele, em que oito anos atrás, me deu seu casaco de capuz de surfista pra eu não passar frio. Ele, que disse que não deixaria eu trazer de volta pro Brasil aquele casaco porque era seu preferido, ele me daria outo. Outro eu não queria - eu disse.
Aquele casaco, que foi a primeira coisa que eu vi dentro da minha mala depois de dez horas dentro de um avião. O mesmo casaco, que eu usava e ia até o meu joelho, e que eu dormia e me sentia ummpouco na Cali ainda.
Igual ao casaco que acordou na minha cama no dia seguinte em que encontrei com o Gabriel.

- Aconteceu uma coisa estranha hoje... Acordei com um casaco na minha cama. É seu? - Brinquei.
- Não sei, o cheiro é bom?
- É...
- Então deve ser, dizem que sou cheiroso.
- Se o casaco for seu mesmo, não posso discordar com toda essa gente que diz que você é cheiroso...
- Se a gente não fosse amigo, acharia que isso é ciúme.
- Ainda bem que somos amigos. Ufa.
- Tô com inveja desse casaco.
- Se a gente não fosse amogo, acharia que você queria ter dormido comigo.
- Ainda bem que somos amigos.
- Ufa.
- Se a gente não fosse amigo, eu acharia que você também queria.
- Eu acho que você está achando demais...
- Pois é, esse negócio de vontade é perigoso, dizem...
- Espero não estar correndo perigo.
- Me entrega o casaco domingo à noite? Aí eu levo pra casa segunda de manhã.
- Essa matemática hein....
- Não é boa?
- Não posso dizer que não é...

Domingo é hoje. Agora é de manhã e , além de eu sonhar com ele, acordei com um casaco na minha cama.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A Barca

A Barca passou. Passou e trouxe uma pá de gente que não dá nem pra contar.
A Barca passou deixando pra trás namoros e casamentos. Namoros e casamentos longos, que duraram  dos vinte e pouco aos quase trinta.
Não tinha lugar pra recordações, lágrimas, angústias, nada disso. Era muito pesado.
Embarcou a esperança de dias novos, a excitação do que havia lá na frente e a maturidade.
A Barca foi uma boa de uma filha da puta comigo porque fez questão de parar no meu passado e deixar bem claro: Subam todos! E quem não couber, pega a Barca das 17h, que tá vindo aí atrás.
Veio o Daniel, que foi o último a embarcar e o primeiro a descer, trouxe uma paixão meio louca que foi embora na mesma intensidade que veio. Eu tava meio confusa, tinha chegado na barca das 15h.
Veio o Pedro, que conseguiu subir na Barca das 17h, e preguiçoso, foi o último a descer. Trouxe tudo o que eu precisava. Tudinho. Admiração, cavalheirismo, bom emprego, charme e uma mala de histórias nossas, que tinha até a minha calça jeans de boca larga e a minha blusa branca de capuz.
Veio o Tiago, com a loucura de St. Tropez. Ele desembarcou errado, todo desligado como sempre, veio baixar aqui no Rio de Janeiro. Mas só por dois dias. Consegui colocá-lo na barca do dia seguinte, que ia parar em Salvador.
Veio o Gabriel, que trouxe toda a graça e as conversas nas entrelinhas, que eu entendo perfeitamente. Quando falamos como o flamengo tá indo mal, ele quer me dizer que ainda está com vontade de me ver.
A Barca trouxe pessoas novas também! Trouxe o homem da minha vida, que separou há duas semanas, a minha melhor amiga, que foi a capitã da barca das 18h e chegou fazendo um alvoroço só,  o pseudo-juíz que terminou início do ano. Trouxe o da pós, o do carnaval, o amigo dos amigos e até um ator.
Bendita seja essa Barca, que tá me fazendo ter dias de sol, mesmo quando tudo parece estar nublado!
Pra mim, nunca tá.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Toda essa loucura....

Até que ponto eu chego com essa loucura?
Eu queria entender o porquê de eu sentir esse turbilhão de coisas por uma pessoa que eu não conheço, que eu tive a oportunidade de passar só algumas horas de uma noite qualquer.
Qualquer pessoa que tivesse o mínimo de bom senso, teria apenas conhecido um carinha e trocado telefone sabendo que ele não ligaria de novo.
Mas por que eu tive que olhar para aqueles cachos castanhos e aquela pele branquinha e sentir vontade de chorar?
Por que eu tenho que acreditar em cada palavra dele, e pior, encher ele de palavras que naquele momento significavam o mundo pra mim?
Eu não acreditei muito que ele ligaria, na verdade, eu achei que ele me achou uma completa maluca. Quem, em sã consciência falaria tudo o que eu falei? E quem seria o maluco de concordar com tudo? Ele.
Maluco, tão maluco, que disse que também estava sentindo aquilo. Tão maluco que, sentindo aquilo, não me ligou.
E tudo tão louco, mas tão louco que eu achei que nunca mais o veria.
Tão louco que, seis dias depois, eu vi aqueles olhos me olhando. Os mesmos olhos que me davam vontade de chorar.
E nos reencontramos, nos beijamos, nos abraçamos e eu jurei que não ia mais pagar de maluca pra ele. Mas ele me desmoronou com tudo o que me disse. E eu esperei de novo ele me ligar no dia seguinte.
Quem sentiria tudo aquilo que ele disse que sentiu e conseguiria dizer que ia ligar e desaparecer?
Ele. Aqueles cachos castanhos e aquela pele branquinha, que me dá vontade de chorar.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O pote de ouro no final do arco-íris

Quais eram as chances de eu estar com um taco de sinuca na mão, pronta pra jogar, olhar pra frente e ver seus cachos castanhos e sua pele branquinha?
Se eu tinha qualquer dúvida a respeito do que falam sobre o destino, essa dúvida foi embora e não volta nunca mais.
Eu nunca tinha ido naquele lugar. Era domingo, e a ideia surgiu no meio de muita falta de opção. Chovia.
Você me olhou surpreso e eu consegui não acertar nenhuma bola e deixar o taco cair no chão fazendo barulho. Fiquei paralisada.
Você sumiu, só podia estar lá fora. Estava. Encostado no muro, fumando seu cigarro.
Me olhou e não parou de olhar. Eu fui até você, encostei do seu lado e não falei nada.
Você perguntou se eu estava bem, olhando pra frente. Eu respondi que sim.
Você me puxou pela mão e me levou embora, de mãos dadas e sorrisos bobos.
Você existe.
Você me contou tudo. Se separou há duas semanas, mora na rua atrás da minha. Agora mora no sofá da sala dos seus pais. Ainda faz parte do projeto social que estava na sua camisa, e vai pra Macaé durante a semana.

-Por que você não me ligou?
-Porque a minha vida está uma bagunça, eu precisava entender o que tinha acontecido.

Você continuou falando o quanto eu era linda, e me falou muito mais.
Me disse que não sabia que era possível achar alguém assim, sentir algo assim, eu era o seu encontro, o seu rumo. Eu era o pote de ouro no final do arco-íris. Tipo inalcansável, você me disse.
Eu lembro de fechar os olhos e querer prestar bem atenção no que você estava me falando, porque era lindo. Você é lindo.
Me perguntou o que eu vi em você. Eu disse que você era o homem da minha vida. Que eu tinha achado. Não existia opção pra gente. Nascemos um pro outro.
Entre declarações e muitas cervejas, ficamos juntos até as cinco da manhã. Nos olhando, nos beijando e nos perguntando o que era aquilo que estava acontecendo entre duas pessoas que nunca tinham se visto.

- Você me dá vontade de chorar.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Eu te achei e você me dá vontade de chorar

Eu te achei e o seu nome é Augusto.
Eu te achei e você tem cachos no cabelo e pele branquinha.
Eu te achei e você usa fones de ouvido jogados no ombro.
Eu te achei e você usa uma blusa branca de algum projeto social.
Eu te achei e você me olhou lá de fora e não parou mais de me olhar.
Eu te achei e você me deu vontade de chorar.

Augusto, eu queria te dizer que você é o homem da minha vida.
Eu percebi isso quando você me embalou, quando você me embolou no seu abraço.

- Você me dá vontade de chorar, porque você é o homem da minha vida.
- Você é linda.

E você me dava mesmo vontade de chorar, vontade de chorar quando eu me virava de costas e você me abraçava grande, com seus dois braços me enforcando e me deixando presa em você. Vontade de chorar porque você me beijava com as mãos no meu rosto. Vontade de chorar porque você me abraçou tão forte que não deixou nenhum espaço entre a gente.

- Sou casado.
- Some daqui.

Você não sumiu, você me abraçou mais.

- Sai da minha vida.

Você não saiu. Não posso contar quantas vezes te mandei ir embora, quantas vezes me virei de costas e você me abraçou forte.
Como pode o homem da minha vida ser casado? Logo o homem da minha vida?
Você pegou meu telefone e eu não te olhei quando fui embora.
Não te olhei porque não queria ter aquela última imagem.
Porque eu não quero que seja a última, quero que você me busque na minha vida e me leve pra sua.

Quando nos beijamos, eu te disse da minha vontade de chorar porque eu tinha sentido que era você quem eu procurei a vida toda. E quando fui embora, minha vontade de chorar era porque eu ia passar mais de um minuto sem você, e isso me dava muita, muita vontade de chorar.

Agora eu estou com vontade de chorar porque estou lembrando da sua pele branquinha e dos seus cachos castanhos.  Estou lembrando também do que eu senti quando você me abraçou, e de quando eu te abracei por trás e beijei toda as suas costas, de um ombro a outro. Lembro de deitar a cabeça e pensar aliviada na sorte que eu tive de ter te encontrado, esquecendo do que você havia me dito, lembrando logo em seguida e implorando:

- Não me liga? Por favor, não me liga. Desaparece da minha vida? Não me procura.

Era o mesmo que pedir desesperadamente para você entrar na minha vida , pra nunca mais me deixar.

Eu te achei.
E você me dá vontade de chorar.










segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Meu amigo, meu amor

Oi, tudo bem?
Eu vim aqui falar com você, porque eu queria que, sei lá... Vai ver você sabe explicar o que aconteceu ontem. É que eu não entendi muito bem, fiquei meio confusa e até agora to sentada naquele taxi olhando pra frente sem conseguir esboçar qualquer reação.
Sei que não foi a primeira, e nem a segunda vez que você faz isso, mas foi a primeira vez que eu fechei os olhos e senti.
Sabe, eu achava mesmo que você era só mais um desses meninos bom partido, que ficaria meu amigo e e que eu iria apresentar cheia de orgulho para as minhas amigas.
Eu apresentei, cumpri com o roteiro que eu havia organizado.
Até aquele dia que, de tanto você insistir para que eu ficasse, porque eu havia bebido muito e era melhor que dormisse na sua casa, eu acabei acordando do seu lado. Eu deveria ter percebido desde o início, que todos haviam bebido muito e que eu era a única que você queria que dormisse lá. Nunca tocamos no assunto. Nunca contamos pra ninguém.
Continuamos fingindo que absolutamente nada daquilo havia acontecido. Eu apaguei isso da minha vida, até porque eu não lembro de absolutamente nada daquela noite. Ou melhor. Eu lembro da gente ter se beijado no escuro, sem motivo nenhum.
Você é o meu amor, como eu sempre falo. Você é o meu amigo mais lindo, e eu não me importei mesmo de te apresentar minhas amigas, não sei porque, eu não sentia nada mesmo, ou não sabia que sentia, sei lá. Não consigo explicar.
Mesmo depois daquela festa que todos disseram que a gente estava tão grudado, que parecia que estávamos juntos. Foi nessa festa que tiraram uma foto de todos nós, e enquanto todos olhavam pra câmera, você olhava pra mim. Nessa festa, que pela primeira vez você pegou meu rosto e me deu um beijinho. E pela primeira vez, eu fingi que achei normal.
-Ele tem esse jeito com as outras amigas de vocês? - Ela, que me conhece mil vezes melhor do que eu, me perguntou, depois de um dia em que nos viu muito juntos.
- Não.... E eu nunca tinha me dado conta.
Na segunda vez, eu estava muito triste e estavam todos na sua casa. Você pegou meu rosto e me deu um beijinho. E pela primeira vez, eu não achei nada demais, eu achei um beijo de amigo, de amor. Achei que você queria me consolar de um jeito mais próximo, um beijinho pra diminuir a dor.
E no meio de tudo isso, algumas mensagens lindas e inesperadas de madrugada, um "eu te amo" jogado num canto, um "estou pensando em você" em outro e um "não entendi porque não viajou comigo"...
Eu não achei nada demais você ter insistido pra eu dormir no seu quarto quando todos já estavam com seus lugares para dormir na sua sala. Você falou que eu ia dormir com você, mas eu já tinha o lugar pronto junto com nossos amigos. Você falou algumas vezes e na hora de ir dormir, falou de novo. Eu fui depois de você dormir e saí antes de você acordar. Acho que não queria acordar do seu lado, acho que tenho um bloqueio, acho mesmo que tenho medo de acreditar nessas mensagens. Ainda deu tempo de fingir que estava dormindo na sala e te ver saindo todo arrumado pra sua reunião de manhã. Você me cobrou, disse que não entendeu porque eu não dormi com você. Eu disse que dormi e você não viu.
Ontem foi a terceira vez. Mas foi depois de algumas vezes que saímos e você não conseguia desgrudar de mim, e eu não conseguia desgrudar de você. Foi depois do dia da Urca que você sentou do meu lado na muretinha e ficou com a mão na minha perna e eu encostei a cabeça no seu ombro. Acho que foi nesse dia que eu comecei a sorrir quando lembrava do carinho que você tinha comigo, e em como era gostoso estar nos lugares com você, porque você me dava a atenção que eu amo ter.
Foi ontem, que estávamos juntos e estávamos bem grudados. Fomos embora juntos, e, no taxi, você estava de novo com a mão na minha perna, enquanto eu encostava no seu ombro.
E você me pede pra deitar no seu colo, pra ser ainda mais carinhoso comigo. Eu também não conseguia parar de ser carinhosa com você. Você, meu amigo, meu amor.
Foi por isso que você fez aquilo? Foi por isso que você me afastou do seu abraço pra colocar a mão no meu queixo e me dar um beijinho? Pela primeira vez eu estou até agora parada, porque não tive nenhuma reação a não ser a do coração bater mais forte e um sorriso idiota no rosto.
Meu amigo, meu amor, você nunca tinha sido carinhoso dessa forma comigo, nunca tinha me pedido pra deitar no seu colo, e eu também nunca havia retribuído dessa forma.
E eu continuo daquela forma, quieta, sentindo suas mãos em mim, e sem entender, pela primeira vez, porque mexeu tanto comigo.