segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Quase um ano e meio

Quando eu paro pra pensar que já passou um ano e meio, eu fico meio bamba, meio confusa, meio "isso está mesmo acontecendo?". Foi possível? Eu consegui?
Só de falar meus olhos enchem de lágrimas, mas elas não derramam, elas secam como se pusessem um secador gigante na minha cara assim que a lágrima pensa em sair.
É incrível como eu consigo chorar quando vejo uma cena de novela, mas sequei quando se trata de tudo o que eu passei na vida real.
Filha da puta. Só o que eu tenho pra dizer dele. O desgraçado parece que amaldiçoou minha vida amorosa pra sempre. Eu sei que eu fui uma filha da puta aos olhos dos meus amigos, de quem me conhece mais ou menos ou de quem eu resolvi falar as cagadas que eu fazia. Mas eu? Eu fui uma santa. Ninguém tava lá quando eu chorava por ter visto o resultado de um exame que praticamente dizia que eu não podia engravidar, enquanto ele zapeava os canais da televisão e falava no telefone combinando o futebol de domingo. Filho da puta. Não consigo pensar em mais nada.
Eu não consigo lembrar dos momentos que eu me senti feliz de verdade, sem fingir. Fingimento era a minha principal qualidade. As pessoas me invejavam, diziam que eu sim sabia viver a vida. Tudo baseado nas coisas que eu falava. Tudo mentira, eu não podia falar nada do que eu sentia de verdade.
As vezes, bêbada, eu falava e só causava discórdia. Ninguém gostava de ouvir que eu não me sentia feliz ali, que eles não eram meus amigos, que eu tinha os meus amigos, assim como eles eram amigos entre si, mas meus amigos moravam no Rio. "Isso aqui, isso tudo aqui!!! Eu tenho isso, assim como vocês estão tendo, igual, mas com os MEUS amigos, vocês não são meus amigos. E eu não queria estar aqui!!!". No dia seguinte, estava eu lá, pedindo desculpas, todo mundo puto comigo e eu chateada por ter falado a verdade. Verdade não fazia parte da minha vida.  Quando eu falava a verdade, era uma mentira.
Viver de mentira é uma merda. Quando eu falava a verdade, era a maluca.
Quando eu falava que nunca quis caralho de apartamento, carro e etc, as pessoas riam... "Essa menina é muito maluquinha..."
Isso porque eles não sabem que no Rio, ter carro é um atraso de vida, e apartamento comprado é só lá na putaqueopariu, um quarto e sala isolado no mundo. É a única possibilidade de se ter apartamento, e tem que ter carro, ou seja: atraso de vida ao quadrado.
Bom mesmo é ir à praia a pé, tomar um açaí na esquina e encontrar os amigos pra uma cerveja de garrafa no final da tarde.
Eles não entendiam nada. Eu era uma pura mentira, um protótipo de menina, uma coitada.
Havia quem me entendia até: " o que você tá fazendo lá?" Lá. Sempre alguém daqui perguntava e eu, mentirosa, dizia que era feliz, tinha comprado apartamento.
Apenas uma pobre coitada, que tinha se acostumado com a ideia de que não necessariamente se é feliz pro resto da vida, paciência ué. Na próxima vida, de repente, sei lá... Mas quem disse que se pode ser feliz? Comercial de Margarina? Foda-se, tô com preguiça, me deixa aqui quieta.
Ser feliz é luxo, eu nunca quis luxo.
Quase um ano e meio. Eu achei que melhorava aos poucos, que com o tempo, ia passando.
Mas eu não sabia que a faca tinha atravessado o corpo, tão fundo, tão fundo que não fecha!
E cada dia que passa, e que não fecha, minha raiva aumenta e aumenta e aumenta e eu tenho uma vontade de sei lá, não sei explicar. Mas eu sei dizer o que é arrependimento. Arrependimento de ter passado tanto tempo deixando ele cravar a faca cada vez mais fundo, e eu de peito aberto, deixando ele fazer uma ferida que não ia sarar nunca.
Sinceramente, é triste falar isso, mas eu não acredito que um dia eu vou conseguir amar alguém, calma e serena, com a certeza que eu achei a pessoa certa.
Esse filho da puta fez crescer um sentimento de "nunca mais vou amar ninguém" tão grande dentro de mim, que eu não consigo pensar na possibilidade de andar de mãos dadas sinceras, de querer dividir uma boa notícia, de olhar pra alguém com os olhos sorrindo.
Terapia não adiantou... Foram seis meses indo pra terapia com a frase feita pra iniciar a conversa, e nada. Um dia só, eu resolvi ser sincera e disse: "eu não consigo falar o que eu venho tentando falar há seis meses, eu preciso me curar dele, mas não consigo pensar na possibilidade de termos uma conversa sobre isso." Ela disse que aquele dia foi o divisor de águas nas nossas sessões, que pela primeira vez, eu tinha sido sincera e que a partir daquele dia iríamos trabalhar nisso.
Nunca mais voltei.
Eu espero, do fundo da minha alma, conseguir falar sobre isso. Mas pra mim, parece o que há de mais  impossível, e sincero, que possa acontecer na minha vida.