segunda-feira, 3 de junho de 2013

Plano D

Meu bem ,
Obrigada por todo esse bem que você me faz.
Eu vou te contar um segredo: Eu tinha desistido. Desistido, e o que é pior, me acomodado. Pensava: "Ah, já que é isso que eu tenho, tudo bem, vamos lá." Eu não digo que me arrependi, porque não tinha muita noção de tempo e espaço, sabe? Eu sabia que estava infeliz, que aquilo não era lá muito o que eu tinha sonhado pra mim, mas tinha preguiça de seguir em frente, tinha me esquecido do encantamento que as coisas tinham e estava tudo meio cinza, como quem enxerga de óculos escuros. E eu estava lá, sabendo que existia sol, mas só de pensar em enxergar as cores, dava um desânimo, como se precisasse que alguém os tirasse pra mim. E foi você, com toda a sua delicadeza e firmeza, que me mostrou que as cores tinham vida.
Eu não consigo expressar o que eu estou sentindo. No começo, me joguei de cabeça, bem fundo, mergulhei sem medo das pedras que podiam ter lá embaixo, de olhos fechados. Uma mistureba de sentimentos não identificados. Da minha parte. Você era meu passado e meu futuro me encarando com olhos bem abertos. Abertos e firmes. Os meus eram bem fechados, ora por não querer enxergar, ora por tanta cerveja que eu tinha tomado. Você era as minhas lembranças da época mais feliz da minha vida e toda a responsabilidade de te mostrar que eu não era mais aquela destrambelhada que você conheceu. Era a minha faculdade abandonada, meu coração imaturo acelerado e minhas aulas esquecidas pelos corredores. Era a minha vontade de ficar com você e a nossa fuga pro quinto andar. Era o seu estojo e o seu casaco perdidos, e os banheiros trocados. Era o outro lado da janela e todo mundo lá embaixo, era nossas brincadeiras e os abraços no churrasco. Era o play do prédio do seu pai e o seu quarto. Você era muita coisa guardada dentro de uma caixa de sapato esquecida debaixo da cama. E quando eu te vi naquele samba, meu coração bateu forte e veio todo aquele filme na minha cabeça, e a certeza de querer reviver tudo de novo. Eu reviveria, como há oito anos atrás, mas você não. Eu conseguia ser, ainda, aquela menina da Fau, mas você não deixou. Você me desmascarou quando disse: "Você está igual ao que você era na época da faculdade, igualzinha, não mudou nada." Claro que eu não havia mudado nada. Dá pra entender? Eu estava tentando ser aquilo que eu era antes. Foi uma tentativa tão grande de me mudar e eu me obriguei tanto a ser quem eu não era, quem queriam que eu fosse, que eu acreditava um pouquinho que deveria ser diferente do que eu era naquela época. E você, com toda a sua calma, em momento nenhum me viu diferente, e você gostava do que via, e a minha máscara caiu. Eu não precisava te mostrar que eu era super centrada, incrivelmente madura e me comportava sempre muito bem, porque eu existia de verdade, e você gostava de como eu era. Eu não tinha os defeitos que sempre julgaram tanto que eu tinha e as minhas qualidades existiam sim, e você as conseguia enxergar.
E então, eu pude ter a certeza que eu podia ter o meu jeito, falar o que eu pensava, sem medo do que os outros poderiam achar ou deixar de achar de mim. Eu podia ser eu de verdade. Você gostou de mim quando eu era exatamente quem eu era, na minha essência, na fase mais verdadeira da minha vida. E agora, oito anos depois, você gosta de novo. Talvez muito mais. Aliás, com certeza muito mais. E eu te faço bem. Você se sente bem comigo. E eu contigo.
Você me disse que gostou do nosso final de semana em Itaipava. Gostou porque estava comigo, porque eu te faço muito bem, porque eu sei brincar, conversar, sou carinhosa, tenho paciência, sei ouvir, tenho bom gosto, sou animada e porque te dei um final de semana inesquecível. E com toda a sua sensatez, disse pra vivermos o presente, e pensar no quanto é bom estarmos felizes, que quer que tudo que esteja acontecendo seja só felicidade. Eu concordo com você, meu bem, mas toda a minha ansiedade fica imaginando como vai ser lá na frente.
Ah! Algumas coisas eu tenho que te falar:
Achei fofo você brigar incessantemente para eu calçar o chinelo porque o chão estava frio. Eu não calçava porque amo andar descalça mesmo, e então eu esquecia.
Foi você, com a minha ajuda, que derramou o vinho na cama, mas poderia ter sido eu sem problemas nenhum, aliás, a probabilidade era muito maior, se fosse eu quem tivesse servindo, capaz que eu deixasse a garrafa inteira virar. Lembra da água que eu esbarrei na sua mão e também derramou, né? Obrigada pela preocupação quando eu bati a cabeça, mas isso ocorre com muita frequência, as vezes diariamente, visto o roxo enorme que eu estava na perna, e eu não tenho vaga ideia de onde eu bati. Perder na sinuca foi um grande orgulho pra mim, já que da última vez que eu joguei, nem a bolinha eu conseguia acertar, conseguir não passar vergonha, foi uma vitória inigualável.
Amei saber da sua história com o Kids Challenger, seu cavalo. Acho lindo qualquer coisa boa relacionada a animais.
E o travesseiro que surgiu entre a gente durante a noite, não fui eu, foi você! Esse mistério vai continuar... Ainda bem que você viu e tirou do meio e chegou o mais juntinho que podia chegar.
Ah, outra coisa. Eu vi o beijinho que você me deu no ombro durante a noite, eu estava acordada, mas foi tão lindo que eu nem me mexi, só sorri e você não viu.
Gosto também quando me 'obriga' a beber água, não sentar no chão, não limpar a mão na calça, lavar a mão, etc. Também gosto quando você me chama de 'meu bem', porque eu te chamo, imitando o jeito que eu falo. E também quando implica comigo (o que acontece o tempo inteiro), dizendo que quando eu falo no telefone eu falo com sotaque de baiana, porque eu falo meiguinha.
E as broncas né? Teve isso também... Prometo que vou transferir meu título de eleitor, tirar a identidade, resolver meu diploma, ligar pro banco e pedir o cartão que eu perdi, declarar o imposto de renda e resolver o que resta em ssa.
Enfim, queria agradecer. Foi tudo lindo. Tudo perfeito. E eu mereço meu certificado por ter conseguido passar esse final de semana com você, mas pode ser um beijo também, que pra mim vale mais.