Há onze anos atrás eu comecei a namorar o meu primeiro tudo. Já escrevi dele, o nome é
André.
Depois de três anos namorando eu enchi o saco da cara dele e meti o pé. Naquela época, o instinto de conhecer o mundo estava a todo vapor dentro de mim, me tentando a ser livre. E fui. Foi ótimo, até eu conhecer meu segundo ou terceiro namorado. E eu me dei conta que era difícil amar de verdade. Poxa, amor não é uma coisa só? Não, não é. Aquilo que eu sentia pelo André era amor, e eu não tava conseguindo entender porque daquela vez não era igual, se era amor do mesmo jeito.
Um dia eu estava triste e bêbada e de madrugada liguei pro André e perguntei porque eu não conseguia mais amar daquele jeito.
Ele disse que era porque a gente amava sem maldade, a gente não conhecia as coisas ruins, foi nosso primeiro amor, e era puro. Disse também que não ia mais ser assim com ninguém, que tinha acabado. Que ele namorava também e era diferente, ele sentia a mesma coisa que eu. Só que ele foi mais esperto e sacou esse lance de amor sem coisas feias. E eu fiquei aqueles anos todos pateta, sem saber de nada.
Os últimos quatro anos, eu amo e sou amada, e por algum motivo, o André sempre me vem a cabeça. Eu tenho um pouco de raiva dele, por ele ter me ensinado esse outro tipo de amor, e tento a todo custo sentir pelo meu, o que eu senti dos meus 18 aos 21 anos... Nothing.
Pois bem, foi ontem que eu o reencontrei. Casamento tem dessas coisas, a gente encontra pessoas e é vulnerável. Você não tem escolha, tem que ir. O problema foi que em nenhum momento eu pensei que ia o ver. Eu não lembrei, não passou pela minha cabeça, eu esqueci que éramos um grande e feliz grupo de amigos. Por sinal, os melhores do mundo. E me dei conta ali no altar. Eu não me preparei, eu simplesente esqueci.
Depois da cerimônia, ele fez uma festa do tamanho do mundo pros meus pais e meu irmão, como se não tivesse passado oito anos sem os ver. Era uma intimidade tão grande, que me bloqueou ainda mais. Era beijos na minha mãe, socos no meu irmão, tudo às gargalhadas. E eu longe, estática. Simplesmente não estava conseguindo lidar com a presença dele.
Fugi o quanto pude, até que quis terminar logo com aquilo e fui falar com ele e outros amigos, na hora certa em que estavam pessoas que eu ainda não tinha abraçado.
Ele me abraçou forte, me deu um beijo e disse que eu tava linda. Eu disse: "Obrigada."
Ele disse que eu chorei a cerimônia inteira. E eu entendi que ele prestou bastante atenção em mim.
Eu saí de perto. Mas ele não. Estava sempre perto, passava e apertava minha cintura.
Disse que sabia que eu tinha feito uma tatuagem, eu disse que não tinha, ele sabia até o que era, minha mãe tinha contado. Por que mães fazem essas coisas?
E eu não consegui mais. Fui tomar um ar e chorei. Estava longe da festa, do lado de fora da casa onde não tinha absolutamente ninguém e ele passou. Eu estava com o pai de uma amiga, ele estava fumando e eu roubei um cigarro dele. De repente, ele passa. O que aquela criatura estava fazendo ali?
Passou fingindo que estava no celular, tenho certeza que não estava. Acho que ele me viu saindo.
Chegou perto, pessou a mão na minha cabeça e eu ajeitei a gravata dele.
Meu tio levantou e saiu. Eu fiquei lá, chorando, pateta e com um copo de champanhe na mão.
Ele veio de novo. Perguntou porque eu tava chorando, eu disse que não era nada, que eu estava bem.
Pegou o meu rosto e me beijou. Um beijo de carinho, um estalinho demorado. Eu chorei mais.
Ele perguntou:
-Esse choro não tem nada a ver comigo não, né?
-Tem tudo a ver com você.
-Sério? Mas a gente está com outras pessoas, você não tem que ficar assim.
-Não tem nada a ver com você, André. Saí daqui.
-Você quer mesmo que eu saia?
-Quero. Sai daqui,
E ele saiu.
Eu levantei, fui curtir a festa e a champanhe, senti muita dor no coração e no pé.